17 de maio de 2008

Irreverência e liberdade


@ Viajante, Abr. 2008

Ontem regressei de Lisboa já bastante tarde, passava da uma da manhã quando me fiz ao caminho, pela frente tinha 200 km de uma auto-estrada com pouco movimento. O receio que o cansaço me vencesse fez com que recorresse à costumeira estratégia de carregar no pedal. É um vício a que não resisto, desde que o tempo e as condições da estrada o permitam, sou maluco mas nem tanto. Ainda avistei duas brigadas de trânsito que me obrigaram a comportar como um menino do coro, mas de resto foi uma viagem meio louca, conscientemente louca. Além da velocidade, não faltou o ambiente psicadélico das luzes a correr e da música bem alta, em jeito de discoteca...
Pensando bem, esta farra deve ter sido inspirada pelo animado jantar no Hard Rock e pela peça, quase homónima, "Rock 'n' Roll", que tinha acabado de assistir no Teatro Aberto. Uma história interessante de Tom Sptoppard que tem como pano de fundo o percurso político europeu, desde o movimento estudantil de 68 até à queda do Muro de Berlim. Um percurso visto a partir de Praga, onde uma banda de rock assume o papel de símbolo de resistência ao regime socialista, e a partir de Cambridge, através da história familiar de um professor universitário marxista. Enquanto a narrativa se desenvolve (e desenvolveu muito) o público é convidado a revisitar uma série de sucessos musicais que se converteram em verdadeiros ícones destes 40 anos de irreverência e liberdade. Sim, 40 anos! E, por favor, façamos qualquer coisa, que isto de viver numa sociedade desmorecida de lutar por ideais, mais que não seja o do paz e amor (o que já seria uma boa obra), não tem piada nenhuma.

14 comentários:

Rosa Negra disse...

Quando a paz e o amor encherem o coração de todos, deixará de haver motivos para lutar por ideais. Até lá...
:) Abraço

Safira disse...

É verdade que tomamos a liberdade que agora se vive como um facto adquirido, esquecendo que, para chegar até aqui um longo caminho teve de ser desbravado. Por heróis anónimos, por homens como o Ian, que perderam tudo por amor a uma causa em que acreditavam. Hoje, acreditamos essencialmente no dinheiro que permite(a uns mais que outros) gozar em pleno a liberdade que nos foi entregue de bandeja. Os ideais passam pelo casal com 2,1 filhos e um labrador na vivenda, o apartamento de praia, viagens, saídas culturais. Enfim, aproveitar o lado bom da vida. Não haveria nada de errado com isto, se tudo o resto não nos passasse um pouco ao lado. Vivemos numa sociedade acéfala, que perdeu referências e valores porque não teve de lutar por nada. Os miúdos de hoje nem imaginam um mundo sem telemóvel, ou o uso de cartolina como única forma de apresentar um trabalho na escola. Por isso é que tanta gente anda entediada e deprimida. Não têm 'Causas'. Vive-se hoje rápido demais, sem rumo certo, e pior do que isso, não se goza a viagem.

Mas nem tudo é mau: os Mojitos do Hard Rock são sempre uma boa terapia para o tédio!
Bjs e bom domingo

Viajante disse...

Rosa:
Tens toda a razão, esse é o nosso ideal maior, ou devia ser.
Referia-me ao "paz e amor" mais no sentido "flower power" do termo. À utopia, ao regresso à luta pela utopia. Pelo menos a essa causa, uma vez que a outra, a do socialismo, a da igualdade, já foi chão que deu uvas. Não faz parte da condição humana, ser igual ao seu semelhante. Está provado! Ficamo-nos pelos direitos e deveres cívicos e mesmo assim já é uma dor de cabeça.
Hoje até podemos seguir determinados padrões ou princípios éticos e morais, mas escudados nas quatro paredes da nossa intimidade. Não exteriorizamos, não partilhamos. O resultado está à vista, uma sociedade doente de egoísmo, de indiferença, de depressão, de tudo e de nada. Testemunho felicidade nas pessoas apenas quando as vejo envolvidas em projectos colectivos seja de que natureza for: voluntariado, ensino, assistência, religião, etc. É urgente recuperarmos esse sentido da "causa" e da "comunhão" de valores. Ora aqui está uma causa - recuperarmos o sentido da partilha.

Safira:
Sem dúvida, minha linda, sem dúvida. O problema é que a história ensina-nos que a liberdade não é um valor adquirido´. Mas como as novas gerações poderão perceber isso se deixaram de ensinar história a sério nas escolas, se deixaram de ensinar a pensar? O que teria sido do Maio de 68 sem os estudantes? E o que são os estudantes hoje em dia? Os políticos (esses traidores da herança de 68-69) souberam bem o que fazer, estupidificaram a massa estudantil para que esta não pense e não conteste a não ser por merdices estéreis.
É tudo tão rápido, sem rumo, sem rota, sem gosto, sem aprendizagem - sem sentido. Estamos cheios de tudo e cheios de nada. Não é fácil remar contra a maré, mas vamos fazendo por isso. Há cada vez mais gente que não aceita esta cartilha que nos andam a impor. Por isso acho que mais cedo ou mais tarde vamos todos cair de novo na rua. Tem de ser!

história e arte disse...

ora viva viajant!!

então, então! esses dias na capital deixaram-t uma pesada bagagem... por vezes acontece não é! sem nos dar-mos bem conta estamos consumidos pela falta de fé na nossa espécie... mas olha q no fundo somos uns macacos bem engraçados!!
beij
boa semana!

Rosa Negra disse...

Ena, acordaste inspirado :P
Concordo com todas as palavras. Infelizmente, quando o objectivo de vida da maioria dos portugueses é conseguir esticar o ordenado até ao final do mês, um sentido maior por que lutar desvanece-se. É um estado de anestesia geral.

MCG disse...

Viajante
Fizeste-me lembrar daquelas nossas viagens loucas em que percorríamos kms iluminados apenas pela Lua ou em que chegados a Leiria voltávamos para trás só porque nos lembrávamos que nos apetecia comer peixe em Peniche!
Irreverência e liberdade é algo de que me lembro desses tempos. Parece que foi numa outra vida...
Bjos

Anónimo disse...

Eu luto por paz e amor...mas às vezes tenho receio de baixar os braços e dizer "Desisto"...e como se luta contra isto?

Beijinho
Ju

Afrodite disse...

Viajante, temos algo em comum, o gosto pela velocidade :).

Lutar por ideais uiiii....sou uma lutadora, uma idealista, uma Robina Wood dos tempos modernos. Estou sempre na defesa dos mais fracos e do lado da justiça (justiça em termos de justo...não de lei, nem sempre coincidem, infelizmente)...e quem se trama sempre? Pois, o mexilhão...neste caso a mexilhona :). É a vidinha...mas é isto que me torna uma pessoa feliz e com gosto pela vida :).

Jantar no Hard Rock? Hmmm...experimentei uma vez e jurei para nunca mais...tipo de comida que não suporto :). Gostos...

Abreijinhosssss e boa semana

Gata Verde disse...

Sem dúvida longa...mas interessante!

Beijinhos e tira o pé do acelerador...

Viajante disse...

Emi:
macacos é mesmo o termo, este mundo virou um zoológico.
Nada disso, tudo boa onda. Eu é que resolvi divagar...
bjs

Rosa:
Se a situação já era preocupante então agora começo a achar que é irremediável.
E daí talvez não. Ainda estou à espera que o povo português deixe de ser mosca morta e decida unir-se para mandar as petrolíferas para o ... Iraque.
Bj

MCG:
Nume outra vida? Não me digas que já estás a escrever do Além!?
Ó mulher tu sai-me da cova :)
Bj

Viajante disse...

Ju:
só os fracos é que desistem.
Bjs

Afrodite:
É verdade, geralmente o nosso espírito de missão dá em asneira.
Eu já fiz um pós-doc na matéria. Agora calculo melhor as causas em que me meto.
Mas alguém disse que no Hard Rock se comia bem? O que importa é passar um bom momento com os amigos ;)
Bjs

Gata:
já estacionei, fiquei sem gasóleo ;)
Datas, quero datas....
Jinhos

Anónimo disse...

Nem sempre, meu caro viajante...as vezes, desistimos porque nao temos mais razoes para acreditar. Mas isso ja sao outros 25, como costuma dizer a minha mae...

Beijinho:)
JU

Rafeiro Perfumado disse...

E as brigadas de trânsito não desconfiaram por tu ires a conduzir e a rezar ao mesmo tempo? Olha que aquilo é malta com olho para comportamentos suspeitos! Abraço!

Viajante disse...

Rafeiro:
como vês deve haver cromos maiores do que eu, pois os tipos nem se deram ao trabalho de montar uma perseguição. E eu que já tinha o telefone da TVI prontinho, ia ser o meu momento.
Abraço!