30 de outubro de 2008

As cores do Outono II


Vidago @ VJ, 2008

Primeira paragem da manhã, para chá e biscoitos de gengibre. O tempo está uma valente porcaria, o escritório aqui de casa começa a estar frio e a escrita, ora aos solavancos ora mais veloz, vai ganhando a forma desejada. E isso conforta-me tal como esta imagem dos meus lameiros que coloquei no desktop do computador, quem sabe em jeito de amuleto para a inspiração.
E como me disse um pardalito hoje bem cedo: "dias assim, frios e chuvosos, não nos tiram o sorriso interior...". E é bem verdade. Temos obrigação de manter esse sorriso, por mais temporal, recessão, falências e despedimentos que nos anunciem. Afinal a vida é hoje!

27 de outubro de 2008

As cores do Outono


Parque de Vidago @ VJ, 2008

Foram estranhos estes dois dias de muitas cores. Com o agrado de sempre fiz-me à estrada até aos meus campos de Vidago. O móbil da viagem foi a comemoração dos oitenta anos de uma amiga de família e, claro, a sempre renovada vontade de rever aqueles lameiros que me dão tanta paz e... inspiração. O Outono estava lindo por ali, as cores, as folhas secas, o frio que depois do cair do sol se começa a sentir ainda sem queixume. Entreti-me por aqueles caminhos perto de duas horas que não foram mais que minutos, passeando, olhando, fotografando, sentindo, reflectindo, da mesma forma inebriante como gosto de ficar sem tempo a olhar para o crepitar de uma lareira.
Mas o Outono também é assim, a vida também é assim. No sábado comemorei uma vida longa, cheia de estações e de cores, e ontem despedi-me do Pedro, que partiu brutalmente aos 35 anos. Era um amigo dos tempos das férias de Verão na Figueira, marcadas por aquele bando fantástico de rapaziada nova e alegre, que começava a despertar para a vida. Passaram-se vinte anos, as vidas seguiram os seus rumos e nunca mais nos encontrámos. Mas os laços ficaram e as boas memórias também, as mesmas que me levaram ir junto dele e levar-lhe um abraço, aquele que durante este tempo todo infelizmente ficou por dar, e recordar aquele sorriso rasgado e feliz de puto, que não chegou a ver as cores de mais um Outono.

Até sempre miúdo!

19 de outubro de 2008

Inspiração


@ VJ, 2008

Não gosto nada de interromper um trabalho quando este está a correr bem. Mas tem de ser, não há volta a dar-lhe, são os ossos do outro ofício do Viajante. Dentro de três semanas apresento uma comunicação a um congresso e tenho por isso de mudar de frequência, concentrar-me noutras matérias e agarrar-me ao verbo, para depois regressar de novo à tese. Raio, apetece-me escrever sobre aquilo que estou a estudar não sobre aquilo que ainda tenho de estudar!!
Apelo aos deuses do meu Pantheon que me dêem muita inspiração para preencher com bonitas e bem talhadas letras as cerca de vinte páginas que tenho pela frente. Dia 8 de Novembro subirá o pano em pleno mosteiro da Batalha.

11 de outubro de 2008

Vivências quotidianas


@ VJ, 2008

Ontem à noite na SIC Notícias, num dos raros bons momentos da televisão nacional, o Mário Crespo entrevistou o escritor Lobo Antunes. A certo ponto, a conversa resvalou para um tema que a história das nossas vidas já fez, de algum modo, o favor de nos dar a conhecer. Refiro-me à dificuldade em manter viva uma relação amorosa por entre os "escolhos da vivência quotidiana". E esta expressão, se não estou em erro, foi a que o próprio Lobo Antunes utilizou.

Mesmo os casos de relações duradouras (hoje cada vez mais raras e que eu classifico aquelas que passam a barreira do cinco anos de vida em comum), argumentou o escritor não estarem isentos de dificuldades, principalmente quando o par é obrigado a olhar-se "verdadeiramente" e a conviver mais do que seis a oito horas por dia. E deu o exemplo de um casal que ao fim de um matrimónio feliz de mais de trinta anos entrou em colisão, a partir do momento em que se reformaram e começaram a tropeçar um no outro o dia inteiro.

O Mário Crespo, com a inteligência e sensibilidade que já nos habitou, rematou airosamente a conversa dizendo que um dos segredos para manter a chama acesa talvez seja o ir deixando uns bilhetinhos (o que em italiano eu chamaria piccoli pensieri) dizendo "Ontem não te vi em Babilónia". Lobo Antunes acrescentou "e hoje voltei a procurar-te e não te vi por lá".

6 de outubro de 2008

Verão 2008


Algures a norte de Vila Nova de Milfontes, Ago. 2008

O Outono chegou, apesar dos dias estarem soalheiros as noites já pedem uma manta e as manhãs mais uns minutos no quentinho da cama. Ontem dei início aos preparativos para os próximos meses: lareira arrumada, pinhas recolhidas e lenha colocada em posição para saltar para a lareira mal o frio aperte. O almoço de domingo foi igualmente prenunciador do tempo que aí vem: constou de um delicioso entrecosto assado com castanhas, acompanhado com cogumelos selvagens; só faltaram os grelos, que ainda não há, mas o tinto de Estremoz compensou qualquer falha pontual. Enfim, tudo a postos para início de uma das minhas estações preferidas, sobretudo por estes mimos, pelas cores das folhas secas, pelo calor de uma lareira e de um copo de vinho ao serão, animado por uma boa companhia ou por uma boa tertúlia de amigos.
Mas definitivamente eu gosto é do Verão. Recebo resignado mais um Outono, mas com olhos e o coração postos no último e inesquecível Verão. Também já merecia, caramba! E tenho a sensação que já foi há tanto tempo... e só ainda passaram dois meses desde o fim das férias...!
Como diz a música "memories that remain..." de um inesquecível Verão 2008. Se os Olimpo concordar, serão memórias que alimentarão o projecto de um desejado, prometido e estrondoso Verão de 2009. A propósito, reitero aos interessados que o projecto Egeu não está na gaveta!
E que tal foi o vosso last summer?

1 de outubro de 2008

Quanto dias depois


Aljezur, Ago. 2008

Eu bem adivinhava que a novela romana da falência da Alitalia ainda ia dar que falar por estas bandas. A companhia parece que lá se safou, pois como disse há uns dias atrás eles fazem sempre muito chinfrim e depois acabam todos a comer pizza, o problema é que o caos está instalado no aeroporto de Roma/Fiumicino. Por conta disto estive quatro dias sem a minha mala de viagem e sem saber se por acaso ela não tinha sido confundida com um qualquer bloco de cimento passível de se usado para calçar as rodas dos aviões.
Felizmente hoje surgiu a boa nova: a mala foi encontrada, atravessou o Mediterrâneo sozinha, pobre criatura, e foi-me entregue (quatro dias depois) em grande estado de desconsolo. O importante é que a pequena já está a tomar ares na varanda e o seu dono não cabe em si de contente, tamanho foi o susto e o desgosto. Devo agradecer à Va Lejos, que accionou e geriu com mestria o gabinete de crise, e prestar a minha eterna gratidão à Paula Lx que graças aos seus contactos com os padrinhos da camorra conseguiu com valentia resgatar a minha mala e o seu precioso conteúdo (...) sem derramamento de sangue, nem pagamento de resgate.