17 de junho de 2008

De mãos dadas


(c) Carlos Lopes Franco, 2008

Depois de várias tentativas frustradas consegui conversar como deve de ser com a minha mãe coragem. Precisava de perceber ou de ter a certeza dos motivos da tristeza e da apatia em que mergulhou desde há uns tempos a esta parte. E quem sabe conseguir ajudá-la a falar de si, coisa difícil, muito difícil, o seu calcanhar de Aquiles de sempre. Fez a resistência habitual mas lá consegui que começasse a abrir-se aos poucos. Fez-lhe bem, fez-nos bem.
No meio da conversa, e ao meu apelo para fazer novos amigos, se não mesmo para refazer o seu quase inexistente círculo de amizades, vieram-lhe as lágrimas aos olhos e disse-me, num tom de criança abandonada que me trespassou o coração: eu tenho medo de voltar a acreditar em alguém...

Foram muitos anos a fazer bem a tanta gente e contam-se pelas palmas de uma mão aqueles que não a usaram. A minha mãe coragem tem hoje 61 anos, a virtude de sempre ter ajudado demasiado os outros e o defeito de quase sempre se ter esquecido de ela própria. Sente-se cansada, só, traída, injustiçada, descrente. Não a censuro, bem sei que tem motivos de sobra para se sentir assim, mas estou consciente que este quadro depressivo pode ser muito perigoso nesta idade. Vai precisar de muito colo para voltar a sentir que vale a pena continuar. Eu preciso que ela não desista para eu não desistir também.

Para já pedi-lhe que prometesse a si mesma que de hoje em diante ELA passaria a ser a prioridade. O resto virá depois, de mãos dadas.

14 comentários:

Gata Verde disse...

Ela não pode desistir. Ainda é muito jovem. Tenta mostrar-lhe outros caminhos...

beijinhos

Check-in disse...

Esse caminho faz-se melhor de mãos dadas...tenho a certeza que vais conseguir reconstituir esse coração maior! Um abraço apertado para ajudar! :)

Viajante disse...

Gata:
é essa a minha missão e a minha obrigação, que cumpro com todo o amor do mundo. Sei que vai ser um caminho demorado, mas o caminho faz-se caminhando, não é?
Nunca é tarde para sermos felizes. E ela vai voltar a acreditar nisso.
bjs

Check-in:
Aquele coração está muito mal tratado, foi completamente bombardeado. Está fechado para obras, mas tenho fé na reinauguração.
Outro abraço para ti! :)

MCG disse...

Ai amigo
Já conversámos sobre isso, mas não sei o que diga...
Só que estou aqui com as mãos estendidas para me juntar a esse círculo e, tanto quanto puder, retribuir o todo o colo que, de vocês, já recebi e continuo a receber!!
Um beijo enorme

MCG disse...

E, já agora, diz à tua teimosa mãe coragem que lhe mando um enorme e carinhoso beijo!

Rosa Negra disse...

Por muito que te (vos) tenha custado, era uma conversa necessária. Muitas vezes temos medo de soltar os fantasmas, mas só assim é possível enfrentá-los e seguir em frente.
E é completamente impensável uma pessoa amorosa e inteligente viver fechada sobre si mesma.
Sabes que tens um longo caminho pela frente, e ela precisa que tu não desistas. Eu sei que não o farás, que terás a paciência, carinho e persistência necessárias para a apoiar nos seus passos.
Um abraço apertado e cheio de força para ti, e um beijo carinhoso para a tua mãe :)

Anónimo disse...

Essa espécie de misantropia em que a tua mãe "muita coragem" se refugia é,como sabes,a concha que a defende das patadas da vida.Que não têm sido poucas.
Essa figura frágil,que parece pedir desculpa por existir e que irradia bondade e ternura,merece e precisa de colinho,muito colinho.
Vamos a isso.
Abraço viajante.

Anónimo disse...

Nada mais normal numa pessoa que deu tudo o que tinha em prol de outras pessoas, como tu dizes!
Tem-me passado pelas maos alguns casos desses. De pessoas que vem a procura delas proprias, do que fizeram da Vida, do que querem daqui para a frente.
Eu fiz isso tambem nalgum momento da minha curta existencia...
Felizmente, cansei-me de ser eu a dar tudo de mim e passei a exigir mais dos outros e criei escapes que hoje me permitem viver em paz e sossego.
Mas isto daria um livro...quem sabe, um dia!
Coragem e muitos beijinhos para a tua mae e para ti...
JU

Viajante disse...

Mcg:
penso que a melhor ajuda que lhe podemos dar agora é mimo, muito mimo e muito colo, para ela voltar a sentir a força que sempre teve.
Eu não me importava nada de lhe transmitir o teu beijo, mas acho que tu sabes fazê-lo de outra forma mais eficaz ;) Pega no telefone ou passa por lá.
bjs

Rosa:
custou a princípio porque ela resiste sempre em chamar problema ao problema, é mais fácil mascará-lo ou fazer de conta que não existe. E deu no que deu. Principalmente quando tem a ver com ela. Com os outros o caso muda bem de figura.
Hei-de aguentar, claro que sim! Ela nunca foi mulher de baixar os braços e eu graças ao Divino herdei essa qualidade. Pela minha mãe... TUDO!
Obrigado pela força.
Bjs

Avozinho:
que bom voltar a ler-te por aqui :) Tenho sentido a tua falta, mas sei que não tens tido mãos a medir... Este ano os fogos em vez de apareceram nas florestas apareceram em casa...
Sabes, eu acho que a concha passou de defensora a predadora, esse foi o problema ao qual não estava habituada e não conseguiu lidar com ele. Tornou-se vítima da sua própria "misantropia"... Julgo que ela deve deixar de estar sempre a pedir desculpa, à conta disso têm-se aproveitado muito dela. Digo-lhe tantas vezes para esticar as costas...
Aquele abraço!

Ju:
obrigado pela força vinda do Mediterrâneo ;)
Bjs

Maria Manuela disse...

Olha posso dar uma sugestão ????

Eu indagava um bom spa, um em que me certificasse que ela seria bem mimada, pegava nessa mãe coragem e oferecia-lhe um dia de mimo...

O mais certo é dizer-te que já está velha para essas coisas mas não há ninguém (e digo-te porque já o fiz com o meu pai) que não goste de uma boa massagem,pedicure, manicure etc...e no fim um almoço num restaurante bem bonito.

Agora estou um bocadito atrapalhada com o tempo mas depois disto passar se quiseres ajude-te a organizar uma coisa dessas... (deixo-te a sugestão do site de "a vida é bela", eles são super profissionais e amorosos).

bjo

Viajante disse...

Maria Manuela:
Olá! Então como vai essa maratona para os exames?
A tua sugestão faz todo o sentido. Há uns três meses ofereci-lhe uma massagem das pedras quentes num spa daqui da cidade.
A princípio resmungou que não queria, que aquilo lhe ia fazer mal (paciência...), que não tinha paciência. Resultado, foi à má fila, cheia de medos e de confusões e saiu de lá com um ar super relaxado, feliz e contente. Uma esclarecida que aquilo não era nenhum bicho de sete cabeças, pedi-lhe que marcasse pelo menos uma vez por mês uma sessão, fosse qual fosse. Qual o quê, nada!
Vou ter de voltar à carga e vai ser já. Umas férias também vinham a calhar, mas a tola deixou que todos marcassem as suas primeiro e, como de costume, ficou para o fim: segunda quinzena de Agosto... Até lá já sei qual vai ser o castigo, SPA!
Boa dica, bjs e tudo de bom.

tulipa disse...

Olá Viajante
Li com atenção e eu também digo que tenho medo de acreditar nas pessoas, não merecem que eu acredite, tenho sido muito magoada, não é por acaso que estou em casa c/uma depressão há 40 dias e sem ninguém me visitar...

Lamento ter perdido o dia mais longo do ano, aqui enfiada em casa, a trabalhar...
sem companhia, para onde eu iria?
É triste.

O que eu tenho para oferecer é uma visita virtual aos glaciares, se estiveres interessado, vem comigo.

Ou então, uma sugestão bem mais perto: que tal uma visita à Rota das Tabernas?
Huuummmmm, que cheirinho a jaquinzinhos fritos.

Bom domingo.

Abracinhos.

Viajante disse...

Tulipa:
depressão!? Isso é palavra proibida, nada disso, toca a arrebitar.
Se está à espera há 40 dias que a visitem é porque está à espera das pessoas erradas.
Abraço!

Maria Clarinda disse...

E como eu a entendo!!!!Mas...vamos eu estou aqui com menos uns poucos aninhos e tendo passado por uma fase semellhante...Estou aqui!
Basta um clique no meu mail.
Jinhos mil