31 de maio de 2008

Desconcertos

Será que andamos assim tão cinzentos, deprimidos e à beira da falência técnica? Como explicar então que, em duas horas, tenham sido vendidos 20 000 bilhetes a 60 aéreos cada um, para o concerto da Madonna, que se realizará em Lisboa daqui a 4 meses? Isto se entretanto não lhe der na cabeça de o cancelar. Reparem, estou a falar de um milhão e duzentos mil euros gastos em duas horas para ir ver um concerto...
Cheira-me que andamos todos desconcertados. Como se já não fosse escândalo suficiente 90 mil pessoas terem pago um bilhete igualmente caro para ouvirem, no Rock in Rio, a bêbada e a drogada da Amy Winehouse fazer figuras tristes e insultar quem luta por ganhar alguma coisa na vida de forma digna.
Vou gravar um disco, pode ser que assim dê serventia à minha licenciatura, ao mestrado e ao quase doutoramento. Entretanto mergulho as bentas na cachaça e no rum, sou o ídolo das massas e ganho milhões.


29 de maio de 2008

Dança do Sol


Praia na costa de Alagoas (BR), Ago. 2003
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Se nunca foram a Inglaterra já podem, pelo menos, ficar com uma ideia de como o tempo se apresenta por esta altura. Mais ou menos como ele está por cá: 15/20º, chuva agora, chuva depois e sol muito de vez em quando. Uma seca, uma pasmaceira nostálgica de entediar as mais pequenas aranhas. E se repararem bem até as andorinhas estão em debandada, praguejando contra o operadores turísticos que lhes prometeram sol e praia com vista para o Atlântico.
À estranheza dos bichos eu acrescento que nós latinos não fomos feitos para isto. Alguém nos programou para sermos alimentados pelo astro rei, pelos passeios de fim de tarde, pelo dolce fare niente de uma esplanada, pela praia, pelo calor, enfim pela luz que nos dá energia. Em vez disso o que temos? Notícias que nos deprimem todos os dias (hoje voltou a aumentar o raio da gasolina) e esta porcaria de tempo que teima em nos pintar a cara de cinzento.
Aconselho a quem tiver boas relações com o divino que avance com orações e promessas, eu cá como já sou um caso perdido para o Altíssimo vou começar com o meu ritual da dança do sol: ligando o aquecedor do escritório, vendo imagens de férias no computador e a acrescentar hortelã e limas à lista do supermercado, para muitos mojitos e caipirinhas. Valha-nos isso e a música!!

26 de maio de 2008

Silêncio


Cabo da Roca, Ago. 2007

Hoje, pelas 13h, na sequência de um brutal acidente de automóvel, faleceram os pais do JP. Havia um derrame de combustível ao longo de 500 metros, o carro em que seguiam entrou em despiste e foi embater noutro veículo que vinha em sentido contrário. Bastaram meia dúzia de segundos para duas pessoas falecerem estupidamente, à conta da incúria e da falta de civismo que corrói este país.
Eram avós, eram pais, eram sogros, eram irmãos, eram tios, eram amigos, eram.
Levar um pai à terra sei que é muito difícil, agora dois imagino que seja insuportável. E tudo por causa de um derrame de combustível...

25 de maio de 2008

Every lie has its consequences

Sábado à noite, chuva a potes, vontade de sofá, de manta e aconchego, depois de um dia muito animado na companhia de bons amigos. Como a televisão é mentira, principalmente ao fim-de-semana (nem sei para que tenho N canais no cabo), resolvi recorrer ao videoclube mais próximo. Ao fim de uma primeira e pouco esclarecedora passagem de olhos pelas capas dos filmes, escolhi este Breaking and Entering, de Anthony Minghellam, por pura intuição e não me arrependi. Vale a pena! Fala da crueza das relações sociais e emocionais dos dias de hoje, e da verdade como forma de superarmos o fracasso e a desilusão.

22 de maio de 2008

Momentos...


Viajante, Abr. 2008

... únicos, felizes. O sal dos "inta" e o picante dos "enta".

21 de maio de 2008

Humor britânico...


Tshirt, Londres (UK), Jan. 2007

... eu chamar-lhe-ia, objectividade. Moral da história: para quê complicar quando muitas vezes temos a chave do problema bem perto de nós, à distância de uma esticadela de pescoço?

Bom feriado!

20 de maio de 2008

Gula


Algures num mercado italiano

Será normal às duas da manhã reclamar por um spaghetti com flor de abóbora (zucca)? Não, pois não. Pois, também ninguém me mandou comer só fruta e sopa ao jantar...
Uma vez que pelas nossas bandas não se comercializa tal coisa, ficam já a saber que estou no mercado, troco por alheiras, chouriços e azeitonas. Raios, será que não conseguirei fazer uma pasta ou uma pizza com anchovas e as ditas fiori? Garanto-vos que é uma delícia, até fritas marcham.

17 de maio de 2008

Irreverência e liberdade


@ Viajante, Abr. 2008

Ontem regressei de Lisboa já bastante tarde, passava da uma da manhã quando me fiz ao caminho, pela frente tinha 200 km de uma auto-estrada com pouco movimento. O receio que o cansaço me vencesse fez com que recorresse à costumeira estratégia de carregar no pedal. É um vício a que não resisto, desde que o tempo e as condições da estrada o permitam, sou maluco mas nem tanto. Ainda avistei duas brigadas de trânsito que me obrigaram a comportar como um menino do coro, mas de resto foi uma viagem meio louca, conscientemente louca. Além da velocidade, não faltou o ambiente psicadélico das luzes a correr e da música bem alta, em jeito de discoteca...
Pensando bem, esta farra deve ter sido inspirada pelo animado jantar no Hard Rock e pela peça, quase homónima, "Rock 'n' Roll", que tinha acabado de assistir no Teatro Aberto. Uma história interessante de Tom Sptoppard que tem como pano de fundo o percurso político europeu, desde o movimento estudantil de 68 até à queda do Muro de Berlim. Um percurso visto a partir de Praga, onde uma banda de rock assume o papel de símbolo de resistência ao regime socialista, e a partir de Cambridge, através da história familiar de um professor universitário marxista. Enquanto a narrativa se desenvolve (e desenvolveu muito) o público é convidado a revisitar uma série de sucessos musicais que se converteram em verdadeiros ícones destes 40 anos de irreverência e liberdade. Sim, 40 anos! E, por favor, façamos qualquer coisa, que isto de viver numa sociedade desmorecida de lutar por ideais, mais que não seja o do paz e amor (o que já seria uma boa obra), não tem piada nenhuma.

8 de maio de 2008

Oriente


Jardim Oriental do Monte Palace, Funchal, Abr. 2008

Amanhã abre ao público um excelente exemplo do que nós temos capacidade de fazer desde que o Estado não se meta de permeio, refiro-me ao Museu do Oriente. Um projecto da responsabilidade da Fundação Oriente que de uma forma arrojada converteu um dos antigos armazéns frigoríficos do Porto de Lisboa em mais um ponto de visita obrigatória da capital. Este novo pólo museológico de alto nível, com um programa de actividades e publicações digno de fazer corar de vergonha o IMC e o nosso Ministério da Cultura, constitui desde já uma referência internacional e vem colmatar uma lacuna imperdoável na cena cultural portuguesa.

Eu bem sei que muitos o desejariam, mas em boa hora outros teimaram em não deixar esquecer que fomos os primeiros a chegar e os últimos a partir do Oriente.
Já não nos lembrávamos disso, pois não?

3 de maio de 2008

A poucas horas do Equador (II)

Depois de cada viagem por terras diferentes tenho o hábito de reler os roteiros que me acompanharam e revisitar com demora as fotografias que fui tirando. Quando se viaja por gosto, como é o meu caso, é raro não nos enamorarmos pelos lugares por onde passamos e dos quais guardamos religiosamente memórias de momentos felizes e dias despreocupados. Difícil mas inevitável é ter de regressar à vida de sempre e deixar no baú das memórias mais um namoro de férias. Numa primeira passagem por essas lembranças recentes seleccionei estas imagens que de algum modo ilustram três dias bem passados numa ilha portuguesa a poucas horas do Equador.

Nesta altura da Primavera algumas ruas do Funchal estão pintadas a tons de azul dos Jacarandás e de laranja-avermelhado das flores de uma outra árvore que tem o nome de Chama-da-Floresta, uma espécie que foi introduzida na Madeira, em 1772, pelo famoso capitão Cook.


O Mercado dos Lavradores: a zona das flores onde também se vendem bolbos e sementes para todos os gostos; as bancas de frutas tropicais, algumas muito esquisitas como a banana-maracujá, com formato de uma banana anã e com o interior semelhante ao maracujá; e o imperdível mercado do peixe monopolizado pelo não menos saboroso peixe-espada.

A subida de teleférico ao Monte, a visita ao jardim tropical do Monte Palace, e a admiração pela perícia dos carreiros que conduzem os carros de cesto numa descida sinuosa de 2 km até Livramonte. Não, não fui porque não me deixaram, para a próxima, irei!



A viagem de carro até Porto Moniz (sitio mágico), começando pelo Curral das Freiras e passando por S. Vicente e Seixal, continuando de regresso ao Funchal, pela ponta do Pargo (a mais ocidental da ilha), pela Calheta, Ribeira Brava e Câmara de Lobos. Deu para perceber a beleza da paisagem e como antes da construção da via-rápida aquelas povoações viviam isoladas de tudo e de todos. A Madeira não é só o Funchal, é uma ilha lindíssima que tem muito para ver e não é em três dias. Deu para perceber que quero voltar...

2 de maio de 2008

A poucas horas do Equador (I)


Passaram dois dias desde o meu regresso ao continente, após uma curta incursão pela Madeira. Em jeito de prólogo ao que poderia ser o relato da minha viagem, caso a inspiração me ajudasse e o trabalho me permitisse, devo dizer que foram dias excelentes, de sol e de paz. Inicialmente amedrontado pelas terríveis descrições de hordas de turistas em excursões de autocarro, acabei por me render à beleza e à pacatez da ilha, mesmo nos locais mais concorridos, e por me deixar conquistar pela imensa simpatia dos madeirenses. Não imaginava, confesso, estava a contar com mais um Algarve explorador, indiferente e com poucos indícios de autenticidade. Também não esperava que o tempo estivesse tão de feição nesta altura do ano. O inesperado vento de leste fez subir o termómetro aos 30º e deu aquele remate tropical ao cenário já de si deslumbrante.
E qual cereja em cima do bolo, a boa maré deste viajante não se ficou por aqui. Acertei em cheio na escolha do meu poiso no Funchal, um local a repetir e a recomendar. Apesar de obedecer aos requisitos de tantos outros resorts espalhados por este mundo globalizado, a simplicidade e o bom gosto imperavam por lá. Dos recantos que mais apreciei deixo aqui a lembrança do delicioso alpendre sobre a piscina, onde religiosamente abraçava o anoitecer com o ritual retemperador de um bom jantar e de uma boa conversa.
Os alpendres perseguem-me ou sou eu que os teimo em conquistar... Sei que são terrivelmente sedutores. E este caiu-me no goto, tinha vista para o mar e para as noites cálidas e sussurradas que só os lugares a poucas horas do Equador nos podem oferecer.