27 de outubro de 2008

As cores do Outono


Parque de Vidago @ VJ, 2008

Foram estranhos estes dois dias de muitas cores. Com o agrado de sempre fiz-me à estrada até aos meus campos de Vidago. O móbil da viagem foi a comemoração dos oitenta anos de uma amiga de família e, claro, a sempre renovada vontade de rever aqueles lameiros que me dão tanta paz e... inspiração. O Outono estava lindo por ali, as cores, as folhas secas, o frio que depois do cair do sol se começa a sentir ainda sem queixume. Entreti-me por aqueles caminhos perto de duas horas que não foram mais que minutos, passeando, olhando, fotografando, sentindo, reflectindo, da mesma forma inebriante como gosto de ficar sem tempo a olhar para o crepitar de uma lareira.
Mas o Outono também é assim, a vida também é assim. No sábado comemorei uma vida longa, cheia de estações e de cores, e ontem despedi-me do Pedro, que partiu brutalmente aos 35 anos. Era um amigo dos tempos das férias de Verão na Figueira, marcadas por aquele bando fantástico de rapaziada nova e alegre, que começava a despertar para a vida. Passaram-se vinte anos, as vidas seguiram os seus rumos e nunca mais nos encontrámos. Mas os laços ficaram e as boas memórias também, as mesmas que me levaram ir junto dele e levar-lhe um abraço, aquele que durante este tempo todo infelizmente ficou por dar, e recordar aquele sorriso rasgado e feliz de puto, que não chegou a ver as cores de mais um Outono.

Até sempre miúdo!

19 comentários:

Helena de Tróia disse...

ola! primeiro de tudo lamento pelo teu amigo. a vida é por vezes injusta. temos de saber viver com isso. Em segundo parabens pela foto, está linda, as cores de outono fazem-na brilhar.

dejalo que va lejos disse...

Um beijo meu para Ti

Unknown disse...

É sempre triste qd perdemos alguém, principalmente se é nosso amigo ou familiar. 35 anos? Ena...No outro dia, na escola, estavam a falar do marido da filha de uma colega, tb com 35 anos k morreu numa viagem à Argélia, no táxi, imagina.É sempre triste qd alguém tão jovem parte.
Mas ficam as boas recordações. Bjs

31 disse...

De repente fizeste-me lembrar o Vergílio Ferreira quando dizia: "Numa situação intensa não sabemos que dizer. Para isso é que há o formalismo do silêncio, traduzido num abraço de emoção ou nos "sentidos pêsames" sem emoção nenhuma. Um abraço enorme para ti. Beijo meu

Viajante disse...

Helena de Tróia,
Tens toda a razão, a vida tem destas partidas e temos de saber viver com elas.
Mas sabes o que verdadeiramente me impressionou e marcou? A dor estampada na cara daqueles pais... Ver partir um filho deve ser terrível...


Va Lejos,
... outro minha querida. Muito grande.


Zabour,
estamos a falar da mesma pessoa, sim. O Pedro estava a trabalhar na Argélia e faleceu, segundo parece de ataque cardíaco, quando estava num táxi. Sozinho num país estranho e distante...


31,
Eu também nunca sei o que dizer... E dizer o quê? Estas coisas a mim batem-me sempre ao retardador. Normalmente a minha primeira reacção à morte é fria, racional, distante. Depois, então, é que...
Os pais não deviam ver partir os filhos. Afligiu-me muito ver a dor deles. No coroar de uma vida, quando deviam ser mimados pelos filhos e pelos netos, acabar por receber um castigo destes, deve ser insuportável.

Anónimo disse...

Poucas coisas devem ser tão incomportáveis como a morte de um filho. A "imagem do Outono" e a (infeliz)notícia deixou-me particularmente sensível...talvez porque o Outono já nos empurre para uma certa letargia ou porque nós, como eu, em alguma altura da vida vemos partir mãos cheias da nossa vivência. Não é a morte que nos magoa, é a impossibilidade de recuperamos os momentos que partilhámos. Um abraço

Viajante disse...

Meu caro Nuno,
o teu comentário sentido emocionou-me muito e não deixo de concordar contigo. Desde domingo que estou tal como tu, particularmente sensível. Talvez seja a "letargia" do Outono que não esteja a ajudar.

Sabes, meu amigo, eu já me despedi de muitas mãos cheias de tudo e também de algumas cheias de nada. Tenho ainda uma, a mais preciosa de todas, que espero que nunca tenha o desgosto de me ver partir. Já lhe basta a vida dura, marcada pela despedida de muitas vivências e pela traição de muitos abraços.

Bem... vamos lá é arrebitar e aproveitar estas réstias de sol que o Outono TAMBÉM nos dá ;)

Abraço!

Rosa Negra disse...

Não há palavras que confortem mais que um abraço e um sentido beijo na testa. Gostava de estar mais perto para tos dar.

Unknown disse...

Que infeliz coincidência!!!O mundo é realmente mínimo.

Beijo grande e abracinho ainda maior.

Custódia C. disse...

O destino é poucas vezes justo e muitas vezes cruel.
Que linda imagem e belo texto escolheste, para a despedida do teu amigo.

Anónimo disse...

Meu amigo é sempre triste, quando alguém parte tão jovem, e maior é tristeza para os que ficam, em particular os pais, para mim a morte de jovens ou de crianças,incomodam-me profundamente, mas talvés ele já tivesse cumprido a sua missão e algo mais importante o espera. Apesar de ter morrido longe, teve uma morte santa, e no fim todos os que estavam longe se juntaram para se despedir, isso é mais importante.
Um beijo grande e fica bem
Albus Q.

Anónimo disse...

ola

gostei...parabens!

Carla

http://www.arte-e-ponto.blogspot.com

Safira disse...

Estava tão enleada pela tua melodia de Outono que tive de ler o último parágrafo duas vezes.
Lamento...por ti, pelos pais do Pedro, pelos familiares, pelas interrogações e revolta que devem estar a viver. E, não sabendo que mais dizer, remeto-me a um respeitoso silencio, e deixo-te um beijo grande.

Viajante disse...

Rosita,
estão dados e recebidos, obrigado :))
Beijocas


Zabour,
Mínimo, minúsculo, um grão de areia. Imagina...
Bjs


Custódia C. C..
É raro o destino ser justo...
Curioso o que disseste e não deixas de ter razão.
Abraço!

Viajante disse...

Albus Q.,
É pena que nunca tenhamos tempo uns para os outros, mas depois lá arranjamos o dito tempo para os funerais. Enfim...
Beijo grande


Carla Silva e Cunha,
Obrigado :) Volte sempre!


Safira,
gostaste da música? É linda, não é? É dos "Les choristes". Um belo filme. Outro belo filme ;) Já o viste? Se ainda não, toma nota que é para um pack gigante de lenços.
Vá, ânimo com esses desenhos :)
BJS

Fozeira disse...

Querido viajante,

Vejo que nao recebeste a minha sentida mensagem...

Desde ha uns anos para ca que vejo na morte uma especie de continuidade da Vida. Primeiro, porque perdi umas das minhas melhores amigas que vivia comigo (ela tinha apenas 18 anos) e porque perdi uma das pessoas mais queridas de que me posso lembrar, o meu avo.

Aprendi a nao chorar e a nao lamentar este acontecimento. Limito-me a sorrir, a meditar, a lembrar o quanto essa pessoa preencheu a minha Vida e o modo como ela costumava sorrir, falar ou discutir. Coisas simples que me fazem sentir que essas pessoas estarao sempre comigo. Volta e meia sonho com os dois e a sensacao que tenho quando acordo e de paz! Nao me perguntes porque...

Mas e sempre triste e esta minha atitude ate pode ser vista como desrespeito ou frieza. nao e...e um modo de me proteger, de me sentir preparada, de viver mais feliz comigo e com as agrugas que a Vida nos reserva!!

beijinho grande
Ju

Viajante disse...

Fozeira,

olá minha linda, onde andas tu? Por que mares navegas agora?

Sabes... gostei de te ler sobretudo por falares de ti.
Concordo em grande parte contigo; conheço essa frieza e esse sorriso. Mas esta situação concreta coloca-nos perante uma dura inversão da ordem natural. E aí é que está o drama da questão. Coloca-te na pele de um pai ou de uma mãe. Tudo muda minha linda, TUDO!
Beijo grande

Gata Verde disse...

A vida nem sempre é justa...

Beijinhos

Anónimo disse...

Querido viajante,

nao quis colocar de lado todo o sofrimento que a morte de um filho(a) provoca. Nao consigo imaginar a dor e nao sei se eu propria seria capaz de o suportar.

lembro-me que os primeiros dias apos a morte da Anna (minha amiga) me pareceram estranhos, senti-me vazia, dei por mim a espera que ela entrasse na sala como costumava fazer e levei muito tempo a entrar no quarto dela. Foi a minha primeira experiencia chegada com a morte de alguem muito querido e lembro-me de que costumava adormecer asfixiada pelo meu choro constante....afinal, e alguem que vive perto de nos, todos os dias.

Mas um dia, um querido amigo filosofo disse-me:"se chorarmos por alguem, so conseguiremos lembrar essa pessoa em dois dias do ano, o do nascimento e o da morte". e sabes, e bem verdade....recordo muitos momentos com o meu avo (ele viveu e morreu na minha casa). Nao recordo o momento em que vi que ele estava morto, em que nao senti o pulso. Recordo que nos costumavamos sentar na 4L dele, a ler o jornal. Que o ia chamar ao cafe quando era hora de almocar ou dos passeios que davamos na foz mesmo antes dele adoecer. relembro o seu sorriso e sinto que o meu destino e guiado por ele...

Mas concordo que nao e facil chegar a este estado de consciencia...

Podemos pelo menos tentar!!!:)

Coragem....

Ju