@ Viajante
Optei por cruzar a Praça de S. Pedro um pouco mais a cima, perto da escadaria da entrada da basílica, para evitar os atropelos e o constante permesso rogado às hordas de turistas que se acumulam pela colunata. Contente por finalmente poder andar em campo aberto, eis que sou abordado por um oriental para o costumeiro “could you take a picture?”. O rapaz parecia nervoso e com dificuldade entendi que a foto deveria ser tirada de frente para a igreja. Ao preparar-me para o click levo um murro na barriga. O rapaz havia tirado da mochila uma capa preta com aplicações bordadas a seda clara e abriu-a, mostrando de um lado uma lindíssima foto dos anos 50-60, a preto e branco, com um casal jovem de mãos dadas, a par de outras duas imagens mais recentes de cada um deles, também a preto e branco, mas com um ar muito mais envelhecido. A composição tinha um aspecto muito digno e terno. Não entendi de imediato o significado mas percebi que se tratava de algo especial e íntimo. Fiz então a foto com cuidado, ao que o rapaz me agradeceu com uma vénia muito cerimoniosa. À minha pergunta esclareceu-me que eram os pais, chineses cristãos, a quem um dia antes de falecerem prometera cumprir o sonho que não eles puderam realizar - visitar a igreja mãe. Com isto emocionou-se a olhar para as fotografias. Embaraçado, sorri-lhe um pouco e segui o meu caminho igualmente comovido. Parei um pouco mais à frente e olhei para trás, encontrei-o ajoelhado diante do seu tesouro e da sua saudade…
11 comentários:
Esta meu amigo... emocionou-me muito. Há dias que somos tocados por algo especial que nos faz pensar, hoje tiveste uma missão de anjo. Beijos
Albus Q.
Imagina uma redacção em plena hora de activo. Imagina alguém de phones a deliciar-se com Puccini nas alturas, alheia a tudo o que se estava a passar à volta. Até os noticiários das tv's passaram ao lado. Esse alguém era eu ao ler este teu post e só reparei que estava noutro mundo, porque a colega da secretária ao lado olhou com ar de espanto para mim a chorar. "Um jornalista afinal também chora", deve ter pensado! Obrigada pelo momento. Ficou gravado. Beijo meu
Albus.,
fiquei um pouco com essa sensação, por isso também a minha emoção.
A cara do rapaz, o misto de alegria e de saudade estampado no rosto...
Não esqueço, não esquecerei...
Bj
31,
Imagino, sim... :)
Sabes, aquela fotografia dos pais quando jovens parecia tirada de uma qualquer cena do "Último Imperador" ou do "Amante" da Marguerite Duras... Impressionante
Scusami, não tenho tido tempo para te ler e para te escrever.
Beijinho
P.S. deram agora as 18:45 no relógio da basílica, o céu está meio avermelhado anunciando "bell tempo per domani", a praça está quase vazia e o som de Puccini ecoa a partir do computador.
A felicidade deve ser partilhada e estou MUITO feliz por isso!
Se tivesses que escrever um guião para um filme romântico e saudoso, não hesitaria em contactar-te!!!
Não é para repetir-me, mas aquilo que escreveste me fez brilhar os olhos também a mim e não tão para o facto em si (è uma situação que se verifica sempre nos filmes "strappalacrime" e portanto poderia ter sido um autentico déjà-vu), mas porque, da forma como a escreveste, deu-me a sensação de ter sido realmente comovente.
Fico contente que estes dias passados na cidade que me viu nascer te levaram ainda a emocionar-te.
Abraços
Um dia quero ir a Roma e se estiveres por aí vou pedir-te para me guiares.
Fiquei a pensar (eu que não sou nada esotérica) que com tanta gente pronta a tirar-lhe uma foto, ter ele escolhido uma pessoa especial para um momento tão digno.
Boa estadia e bom regresso.
bj
Bolas, até me arrepiei...
Bjs e volta depressa
São estes momentos que nos fazem bem à alma, não é?
Estou comovida, a três mil kms de distância...
Baci
Carlo,
Roma emociona-me sempre, foi amor à primeira vista faz em Fevereiro dez anos. Como bem conheces tem o seu lado alucinante, incasinato, desorganizado, mas é simplesmente adorável: a história, os edifícios, a cultura, o modo como os romanos e os italianos em geral usufruem das suas cidades, coisa que nós portugueses não fazemos nem sabemos como.
Fico contente por saber dos meus dotes dramáticos ))
Bem, caro mio, eu costumo avaliar a qualidade dos filmes pelo número que lenços molhados, por isso… ;)
Abraço!
MM,
Guiar-te-ei com muito gosto, como já fiz a tantos outros amigos. Falo a sério!
Eu acho que não há coincidências. Também não foi por acaso que um dia, há uns anos atrás, ao entrar numa pequeníssima livraria perto do Pantheon (locus magico) a dona cumprimentou-me e, sem mais, disse-me que eu vinha de uma cidade com uma grande biblioteca coberta de ouro e rasgada por grandes janelas, por onde passavam os pássaros. Alusão era clara à Biblioteca Joanina da Alma Mater. Fiquei arrepiado e percebi logo onde tinha entrado…
Bj
Zabour,
É verdade é bom quando paramos para pensar. A vida corre rápido demais e por vezes não nos damos conta que estamos a perder o melhor dela.
Bjs
Safira,
Fazem-nos sentir vivos, muito vivos!
Vá, nada de ranhosisses :)
Bacione
Tudo acontece por uma razão :))
Não há o que comentar... apenas posso dizer que, como os demais, fiquei arrepiada e com as lágrimas prestes a saltar.
Beijos e bom regresso
Rosa Negra,
por isso há que ter "Patience", como diz a música dos Guns N'Roses :))
Bjs
Mcg,
Obrigado ;)
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