@ Viajante
Já estava no autocarro a caminho de casa, sentia-me muito cansado e de cabeça cheia de letras, computador, gestos mecânicos e de pesquisas marcadas pelos horários sempre apertados do arquivo. O fim de tarde mostrava-se sereno, o sol poente acentuava os tons ocre dos prédios e as esplanadas seduziam para o ritual tão italiano do aperitivo antes do jantar. A sensação de exaustão e aquele autocarro cheio, sujo e barulhento começou a deprimir-me. Não me apetecia por nada ter de enfrentar uma hora de pára e arranca, de gente a atropelar-se dentro daquele espaço exíguo e desconfortável. Como sempre faço deixei-me ficar junto à porta para ir apanhando um pouco de ar menos saturado. Num certo momento a porta abriu-se e à minha frente vi uma placa que dizia “Campo dei Fiori”. Dei-me então conta que estava aqui há dez dias e ainda não tinha ido ao campo, àquele espaço que, tal como a Piazza Navona, faz parte da minha Roma, daquela outra cidade que me conforta e me faz sorrir. Não quis saber, dei um pulo do autocarro e saí daquele prometido inferno. Fui até ao campo. E estava certo, bastou-me uma hora sentado na base da estátua de Gionardo Bruno, para esvaziar a cabeça e assim aliviar o cansaço, enquanto observava a gradual transformação da praça para mais uma noite de diversão e romance. E ainda tive direito a um bónus, um bónus excepcional; ao entrar no campo encontrei o mesmo guitarrista russo que em Julho, na Piazza Navona, me deixou maravilhado pela sua postura intimista e pelo repertório de primeira escolha.
Sai do Campo dei Fiori renascido, reconciliado com as poucas horas de sono e com as muitas horas de computador e de arquivo. Estava pronto para de novo me oferecer volentieri aos leões do Coliseu.
Sai do Campo dei Fiori renascido, reconciliado com as poucas horas de sono e com as muitas horas de computador e de arquivo. Estava pronto para de novo me oferecer volentieri aos leões do Coliseu.
8 comentários:
Dorme bem ...
Tal como no post anterior, este post parece tirado de uma cena de um filme! E eu aqui escondida, sem comprar bilhete, na fila do meio...:) Beijo meu
Oh, viajante...apaixonei-me...apaixonei-me, nao pela tua Roma, mas por Quebec (Canada), que e romantica, bonita, com um rio de perder de vista,pessoas simpaticas e, sobretudo, limpa. Depois de ter visto Napoles e ter ficado muito desiludida com Italia (de um modo geral).
Bem, em Quebec ficamos 3 dias, o que nos da a oportunidade de sairmos a noite do navio e explorarmos a cidade de outra forma. No Mediterraneo nunca aconteceu tal coisa...
Mas estou a adorar o canada, apesar do cansaco fisico, das noites mal dormidas por causa das mudancas de hora...
Prometo dar noticias em breve.
beijinho grande
JU
Quel posto è dove vi ritenete nel paese. Se il vostro sogno è questo, nonlo dia in su :)
(isto assim é mais giro!!)
Um abraço grande, e faz boa viagem.
Pois, pois...e eu na Piazza Navona à espera que me fosses pagar um gelado. Ai, o menino, só me fzes esperar.
Beijinho grande
MM,
e eu que bem preciso, pois trago o sono tão atrasadinho...
bjs
31,
e eu não contei tudo. A pseudo-cantora de ópera toda desgrenhada que interrompeu a performance do guitarrista; o capo mafioso da praça que cobrou os seus direitos ao russo antes da sua actuação e que pôs a cantora lírica a andar num estalar de dedos; a namorada do russo escondida num canto do campo a quem ele ia dedicando as músicas só com um gesto do olhar... e cosi via...
Beijo
Fozeira,
minha linda, o que importa é que nos apaixonemos e de preferência que não seja pelas mesmas coisas, caso contrário este mundo esta uma chatice ;)
eu gostava de conhecer Vancouver...
Aguardo novas e boas paixões :))
BJS
Rosita,
não tenhas dúvida, muito mais giro. Dá luta ;)
O próximo passo é aprender grego :))))))
Bjs
Zabour,
estavam a montar o palco para mais um comício na Piazza Navona... E nunca pensei que não lesses a faxa que pendurei na igreja de Santa Agnese a dizer que estava na praça ao lado ;(
Bjs
pois o campo dei fiori tem destas coisas!
parabéns pelo blog, e principalmente pela reportagem "italiana" gostei bastante e vou voltar certamente
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