16 de setembro de 2008

Cronaca romana – Dia 1º "Bem pregas tu Frei Bento!"


.
Um dia hei-de chegar a Roma e em vez de funcionários da Alitalia sentados no chão do aeroporto em protesto pela inevitável falência da empresa, gostaria de ver os padres, irmãs, irmãos e a multidão dos enteados da Casa do Senhor em passeata à porta de S. Pedro, gritando palavras de ordem, exigindo, reclamando, manifestando. Melhor visão do Paraíso não existirá. Bem, existir existe mas é preciso primeiro destruir o silício e a hipocrisia e só depois mostrar o cinto de ligas. Julgo mesmo que a militância pela ortodoxia e pelo tradicionalismo dos costumes imposta pelo papa Rati, para celebrar a entrada em beleza da Igreja no novo milénio seja sobretudo um discurso direccionado para dentro, para sanar o pânico provocado por alguns focos de rebeldia.

Imagino que Sua Santidade (SS), homem douto e de grande inteligência, tenha percebido a eminência da revolução e a forte probabilidade do advento de uma herética "Nova Igreja do Amor Praticado Todos os Dias". Um produto mais adequado ao novo tempo e congregador de todo o rebanho, e não apenas das ovelhas aparentemente tosquiadas. Estará SS assustada com este cenário? Ou o susto tem a ver consigo mesma e com a partida que o Espírito Santo lhe pregou? Em crise existencial não duvido que esteja, sobretudo depois da dedicatória coreografada que a Madonna lhe fez da canção ícone "Like a Virgin", no concerto realizado aqui em Roma, na semana passada. Dizem as más-línguas que SS não resistiu à sensualidade da pop star deslocando-se ao Estádio Olímpico usando o disfarce de vendedora de fancaria da Prada (a sua marca preferida). Até pode ser boato de gente sem fé, todavia não restam dúvidas quanto a SS ter sido vista estes dias em Paris a saudar com grande calor e afecto o casal Sarkosy (o exemplo de bom pai de família promovido pelo Vaticano) e a bela cantora modelo italiana Carla Bruni, de ar cândido e saia abaixo do joelho, que em tempos declarou a uma revista que achava a monogamia um aborrecimento.

A corroborar este quadro de esquizofrenia pura está a cena que presenciei hoje a dois paços da praça de S. Pedro. Teria merecido uma fotografia frontal, mas os visados exigiam dinheiro pelos direitos da publicação. Por isso espero que acreditem em mim. A irmã do lado esquerdo, a que tem botas de plataforma para disfarçar a pouca altura (digo eu), apresentava um par de óculos escuros muito fashion e maquilhagem de fazer inveja à Maria Antonieta. O irmão trazia uma carteira muito suspeita e a companheira de route do lado direito... Bem, essa devia estar a ser iniciada nas artes da via-sacra. E lá foram estes três herdeiros do Woodstock romano, vulgo Concílio Vaticano II, lembrar os velhos tempos passados na praça de S. Pedro quando cantavam o Yellow Submarine e o resto do cancioneiro do Flower Power. Estavam eles longe de imaginar que 40 anos depois voltariam a ver o papa vestido de arminho e todo mordido por não se poder passear in piazza de liteira transportada por escravos núbios oferecidos pela rainha de Sabá.

Fiquei surpreso com a modernidade e a ousadia, mas logo me lembrei que SS estava fora a pregar em França. Amanhã já estará de volta ao terreiro e tudo voltará à beatitude saloia do costume.

Cordiali saluti.

12 comentários:

MCG disse...

Patrão fora...
O Vaticano no seu melhor :)))

Bjos

história e arte disse...

hahahaha!!! q bello!!

a inspiração q a cidade eterna t provoca é deliciosa!!

conta mais coisas!!! :)

beij

Afrodite disse...

Será que iam fazer uma rave na igreja? "Óstias Bar" o bar que é do Senhor! :)

Abreijosssss

Afrodite disse...

O sr Padre não vai com a mãozita no rabiosque da irmã? Ahh não pode ser, com aquela mala não engana ninguém eheheheh!

Abreijos

Rosa Negra disse...

Como já argumentei o que acho do trabalho extenuante que foste realizar (e sim, vi o cartão, o que não prova que o uses ;)), não vou voltar a dizer que acho que estás a arranjar maneira de não completar a tua pesquisa desta vez e teres de marcar nova viagem (ups, já disse).
Agora fora de brincadeiras, estou espantada contigo: estás em Roma rodeado de batas e saias até aos pés e vens falar de cintos de ligas e amor livre!! Podia perguntar, mas sou uma pessoa discreta, pelo que vou levar o assunto para outro campo: tens razão, uma das críticas que aponto à Igreja Cristã é o facto de os padres não poderem casar e constituir família. Sei que tem a ver com o voto de castidade e tal, mas como é que esperam que um jovem casal, por exemplo, confie num padre para tirar dúvidas sobre a sua relação? Se ele nunca teve uma relação, como pode compreender o que lhe dizem, e aconselhar? Os padres deviam ter uma família que fosse exemplo para a comunidade (é claro que depois temos exemplos de padres americanos que têm as famílias mais disfuncionais que existem, mas enfim...).

Um abraço grande para ti

Unknown disse...

Para mim o mais condenável nem são as botas, nem a mala, nem a maquilhagem...isso são pormenores!Então e aqueles padres que têm amantes, filhos, mulheres e depois se for preciso tratam o povo a ferro e fogo e condenam todos e qualquer um às chamas do inferno com maldições e punições???
Ai, Bennedito, acho melhor olhares com mais atenção para o teu rebanho.

Ciao, bello!

Viajante disse...

Mcg,
para mim é o Vaticano no seu pior.
O melhor seria a tolerância, o respeito e a caridade.
bjs

Emi,
Ciao bella!!
Pois, é essa "inspiração" que me faz voltar e voltar e voltar e quem sabe um dia FICAR!
Vou contando, vou contado... Não pode ser tudo de uma vez para não ser excomungado ;)
Sabes, quando se conhece um pouco o funcionamento da Igreja enquanto Estado político e estrutura de poder percebemos que nada disto faz sentido e não passa de um ENORME contra-senso. Pelo menos para os dias de hoje. Defendo a "ecclesia" que Cristo desejou e que S. Francisco reclamou.
bjs


Afrodite,
cá para mim eles vinham vinham da rave e iam para outra rave.
Isto aqui é non stop, se quisermos ;)
Bjs

Viajante disse...

Rosita,
à parte das provocações e injúrias que um dia te levarão a pedir clemência ao Senhor, devo dizer-te que a tua ficha já foi devidamente encaminhada para o tribunal do Santo Ofício. Sua maldosa :)))
Sabes as batas e as saias significam pano a mais, dão-me a sensação de claustrofobia, capici?
E quanto a perguntas, manda vir ;)
O casamento dos sacerdotes é outro problema do problema. Não suporto é a hipocrisia e o falso moralismo que se está de novo a instalar. Defendo a religião do respeito, da partilha, do amor e da pobreza. Isto aqui está tudo muito concentrado, por isso, dá arrepios, ogni tanto! Gostaria de ver o Santo Padre junto de quem precisa, a dar alento a quem não o tem, mas o arminho é caro e quer-se sempre imaculado, os pobres cheiram mal e não há heliportos nos bairros da lata muito menos em África ou na Índia ou no Bangladesh. Tenho dito.
Bjs

Zabour,
pois sim, é disso mesmo que eu falo. Do falso moralismo, o grande cancro da Igreja, que de novo voltou para fazer estragos. O povinho diz e com toda a razão, que quem fecha a casa é porque tem medo que vejam o que vai dentro.
Bjs

Safira disse...

Como já se falou da hipocrisia, eu limito-me a manifestar o meu mais profundo repúdio pelas vestes de arminho (obrigadinhos a todos, que o conseguiram por em extinção há uns anos!).
Correndo o risco da fúria divina, continuo a achar que o SS actual deve ter um 666 tatuado em qualquer lado. MEDO!!!

beijinhos e boa continuação das crónicas.
E a foto?? ;)

Viajante disse...

Safira,
Falas do arminho, mas olha que a tiara também deve ser passeada e experimentada em frente ao espelho uma carrada de vezes. Aposto!
Voltando aos bichinhos, as associações ambientalistas italianas já tentaram sensibilizar a cúria mas em vão. Como digo, muita moral e pouca uva. Bem prega Frei Bento!
bj
P.S. A foto chegará quando for ao Largo Torre Argentina.

Anónimo disse...

Só tenho a dizer o seguinte:
LOOOL!
Não é nada o Vaticano no seu melhor. É alegria e amor!!!!
Ahahahah

Viajante disse...

Nuno,
sim sim e do tipo "love is in the air"... LoooL!
Abraço