© VJ, Ago. 2008
Decidimos fazer um fim-de-semana diferente e inaugurar a época estival não com uma mas duas idas à praia. Tivemos sorte, o tempo esteve óptimo e o prazer de sentir de novo a areia e o rumor da ondas do mar sossegou-nos o corpo e renovou-nos a alma. Foram dois dias calmos mergulhados numa estranha sensação de estar em férias, renovado pelo remanso de uma praia quase deserta. Foram dias simples e felizes, foram dias de sol.
Como companhia de leitura levei o novo livro do Miguel Sousa Tavares, o "No teu deserto". Não é nada de especial, mas é um livro sentido, como eu gosto de ler nos registos pessoais, este ainda com um final comovente. Partilho convosco esta passagem:
"A razão principal é que já não há muita gente que tenha tempo a perder com o deserto. Não sabem para que serve e, quando me perguntam o que há lá e eu respondo "nada", eles riscam mentalmente essa viagem dos seus projectos. Viajam antes em massa para onde toda a gente vai e todos se encontram. As coisas mudaram muito, Cláudia! Todos têm terror do silêncio e da solidão e vivem a bombardear-se em telefonemas, mensagens escritas, mails e contactos no Facebook e nas redes sociais da Net, onde se oferecem como amigos a quem nunca viram na vida. Em vez do silêncio, falam sem cessar; em vez de se encontrarem, contactam-se, para não perder tempo; em vez de se descobrirem, expõem-se logo por inteiro: fotografias deles e dos filhos, das férias na neve e das festas de amigos em casa, a biografia das suas vidas, com amores antigos e actuais. E todos são bonitos, jovens, divertidos, "leves", disponíveis, sensíveis e interessantes." (p. 118-119)
12 comentários:
O silêncio do deserto deve de verdade ser algo mágico, como se pudéssemos apenas nos ouvir, assim como o carulhodas ondas pode sempre e unicamente nos trazer a paz...
Já fui mais apreciador de praia, mas sei que não posso viver sem o mar. E aquele barulho irresistivel das ondas alimenta-nos a alma...
Eu não tenho terror da solidão, nem me ofereço às pessoas que não conheço, como diz o excerto do livro de MST, mas reconheço que há uma excessiva cultura de "social networking". Mas também de certeza que MST nunca viveu numa aldeia. Mesmo antes do facebook já havia outras formas de exibicionismo e de voyeurismo. De repente aparecem a internet e toda a gente acha que o mundo mudou e está tudo viciado. Pffff! O homem transporta os hábitos de instrumentos em instrumentos e a internet é só mais um. Belíssima praia :)
De alma renovada passo por aqui, sorriu ao ver a foto e sinto...
"Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade."
Sophia Mello Breyner Andresen
Beijo do Tu
Começo a pensar que devia mesmo ter comprado o livro...
Eu não tenho terror do silêncio, adoro-o. A ele e à clarividência com que nos brinda quando devidamente desfrutado. Nem tenho terror da solidão, de que necessito diariamente para o meu equilíbrio. Sou bicho de concha, só espreito cá para fora de vez em quando. E como nem sempre gosto do que vejo, o deserto convém-me perfeitamente. E esconde uma beleza que poucos alcançam. Já tive a sorte de ir ao deserto, e é de facto belo. Uma experiência interior, sem dúvida.
Mas não concordo com o MST na parte final: eu tb sou bonita, jovem, divertida, leve (mesmo com os dois kgs a mais do Natal), disponível (mais ou menos), sensível e interessante. E gosto mais do deserto do que de uma festa em Ibiza. So, mister MST, há aí um problema qualquer com a teoria, amigo...
Beijos, amigo viajante, hoje deu-me para a metafísica... ;)
E como sabem bem dias assim!!!
Está ai uma experiência que desejo há muito realizar, passar um tempo no deserto, especialmente à noite, deve ser uma experiência única, não acho que a solidão seja uma coisa má pelo contrário, para mim sempre foi algo prazeiroso e que muito aprecio, às vezes falta-me tempo para a solidão. Quanto às novas tecnologias de comunicação, computadores internet e outros afins, devo dizer que sou a maior defensora uma vez que nos permite proximidade e rapidez, de outra forma não estariamos a fazer esta troca de ideias agora. tudo o que vier e que nos facilite a vida é bom, digo muitas vezes que quando morrer, aquilo de que irei ter mais pena e de não ver o que se vai inventar a seguir.
Pois meu amigo fico feliz por teres estado na praia, é de facto bom, gosto particularmente do cheiro, que é pesado mas libertador.
Beijões
Albus Q.
Olá :)
Estou a gostar muito deste blog :)
Sandra
http://presepiocomvistaparaocanal.blogspot.com
"A razão principal é que já não há muita gente que tenha tempo a perder com o deserto."
O deserto é talvez o sítio mais bonito que já tive a sorte de ir. Lá encontrei-me comigo e com os meus fantasmas, uns bons, outros maus, outros mais ou menos.
Confesso que não gosto de MST, acho que pessoas com ele, públicas, deviam ter mais cuidado com certas afirmações, mas lá que escereve bem isso tenho que reconhecer.
Ah, já agora, vou ver o deserto de novo para a semana. Beijinhos
Clair,
eu sou fã do barulho das ondas :)
Obrigado pela vista. Volta sempre !
Dylan,
eu diria sem o mar e sem a serra, preciso das duas coisas.
Nuno,
julgo que é desse excesso e do superficialismo do "social networking" que nos fala o MST.
Abraço!
Va Lejos,
Obrigado pelo embalo de Sophia. Mar e Sophia são duas alegorias do mesmo sal :)
Beijo do Eu
Safira,
pois eu nunca fui ao deserto. Tenho pena mas ainda hei-de ir. Quero alcançar essa beleza que vocês os "experimentados" nos falam.
Metafisica bastante, até nem te saíste mal.
bjs
Fragmentos Intemporais,
Muito bem!!!!!!!!!!
Albus Q.,
haja inteligência e sensibilidade para usarmos com a parcimónia adequada estas novas tecnologias.
Amizade é algo de muito sério, não é apenas um click de facebook.
beijocas
Presépio do Canal,
Olá! Obrigado, volta sempre!
Zabour,
continuação de um bom deserto para ti :)
bjs
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