1 de dezembro de 2006


Santorini (Gr), Ago. 2005


OFÍCIO DE VIAJANTE

procurei dentro de ti o repercutido som do mar
a voz exacta das plantas e um naufrágio
o deslizar das aves, o amor obsessivo pelos espelhos
o rumor latejante dos sonhos, as cores dum astro explodindo
o cume nevado de cada montanha
difíceis rios, os dias

vivi talvez em Roma
no tempo em que ali chegavam os trigos da Sicília e os vinhos raros das ilhas
a fama remota dos ladrões de Nuoro

todo o meu corpo estremeceu ao mudar de voz
cresci com o rapaz, embora nunca tivéssemos sido irmãos
e quando ficámos adultos para sempre
alguém lhe ofereceu o ofício de viajante

eu morri perto de Veneza
e quando atirava pedras aos pássaros sempre me ia lembrando de ti

AL BERTO (1948-1997)
O Medo

5 comentários:

Anónimo disse...

Lindo. Boas viagens. Nós acompanhamo-las.

Viajante disse...

Obrigado r & L :-)
Fico muito contente por teres gostado, como se percebe ainda está a ganhar corpo.
E... o que acham do título?

Venham daí, viajar é preciso, pelo mundo e por dentro de cada um de nós!
bjs

Anónimo disse...

Já Fausto o dizia "viajar é preciso"...
Vamos a isso. Que ganhe corpo, tronco e membros e vamo-nos divertir.

Rafeiro Perfumado disse...

Excelente início... o meu ofício não é o de viajante, mas pratico o meu ofício para poder viajar. Só tenho pena de ter consciência que a carteira e a vida serão sempre curtas para ver tudo.

Um abraço!

Viajante disse...

Caro amigo Rafeiro,

o teu inesperado comentário fez-me revisitar o já distante início deste blog e, confesso, tocou-me o teu gesto. Obrigado.

Outro abraço!