Santorini (Gr), Ago. 2005
OFÍCIO DE VIAJANTE
procurei dentro de ti o repercutido som do mar
a voz exacta das plantas e um naufrágio
o deslizar das aves, o amor obsessivo pelos espelhos
o rumor latejante dos sonhos, as cores dum astro explodindo
o cume nevado de cada montanha
difíceis rios, os dias
vivi talvez em Roma
no tempo em que ali chegavam os trigos da Sicília e os vinhos raros das ilhas
a fama remota dos ladrões de Nuoro
todo o meu corpo estremeceu ao mudar de voz
cresci com o rapaz, embora nunca tivéssemos sido irmãos
e quando ficámos adultos para sempre
alguém lhe ofereceu o ofício de viajante
eu morri perto de Veneza
e quando atirava pedras aos pássaros sempre me ia lembrando de ti
AL BERTO (1948-1997)
O Medo
5 comentários:
Lindo. Boas viagens. Nós acompanhamo-las.
Obrigado r & L :-)
Fico muito contente por teres gostado, como se percebe ainda está a ganhar corpo.
E... o que acham do título?
Venham daí, viajar é preciso, pelo mundo e por dentro de cada um de nós!
bjs
Já Fausto o dizia "viajar é preciso"...
Vamos a isso. Que ganhe corpo, tronco e membros e vamo-nos divertir.
Excelente início... o meu ofício não é o de viajante, mas pratico o meu ofício para poder viajar. Só tenho pena de ter consciência que a carteira e a vida serão sempre curtas para ver tudo.
Um abraço!
Caro amigo Rafeiro,
o teu inesperado comentário fez-me revisitar o já distante início deste blog e, confesso, tocou-me o teu gesto. Obrigado.
Outro abraço!
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