26 de julho de 2008

Férias, finalmente!


@ Viajante (Jul. 2008)

Ainda meio atordoado com a agitação do último mês, olho para o calendário e dou conta que estou a dois dias de FÉRIAS! Como dizem os nuestros vizinhos: en hora buena! Apesar do esforço não consegui terminar tudo o que pretendia. É o que dá colocar a fasquia muito alta. Felizmente daí não vem mal nenhum ao mundo e quando regressar acabo a faena. Olé!
Voltando às férias. Adivinham-se doze luas completas sem computador, com muito descanso, muita paz, alguma literatura, muito sol e banhos de mar. Os primeiros dias serão passados num prometido paraíso com alpendre, noites à luz de velas e jantares mediterrânicos, isto algures na costa alentejana, entre o campo e a praia como o Viajante gosta. Depois será tempo de juntar as tralhas e zarpar para o Algarve, aquele que ainda existe e que não nos obriga a estar em filas nem andar de carro.
Não parto sem antes deixar o meu abraço a todos aqueles que me costumam visitar com um pedido de desculpa pela minha ausência. Não tenho ligado nenhuma ao blog, eu sei, mas acreditem que tem sido por uma boa causa.

Paz e bem.


@ Viajante (Jul. 2008)

16 de julho de 2008

Desabafos a Contra-Relógio


Orvieto (IT), Jul. 2008

Momentos lusos que também podiam ser italianos...
Chego de manhã cedo a uma das nossas bibliotecas municipais, dirijo-me ao balcão de atendimento e a funcionária, já com um olhar indiferente e maçado decorridos apenas 15 minutos da abertura das portas ao público, lá repara em mim e lança um: ah, sim, é para consultar aquele calhamaço!? Fiz-me desentendido e respondi com um tom formal que pretendia continuar a leitura do volume requisitado no dia anterior.

Mais grave se torna esta buçal e triste observação por vir de uma recém (de)formada na tão em moda biblioteconomia, vulgo ciência esotérica dedicada aos livros e bibliotecas. Esta criatura é uma das muitas que povoam de ignorância e imbecilidade as nossas poucas casas de cultura. Um mau sinal dos tempos, sem dúvida...

Já instalado e a tentar concentrar-me na leitura do dito volumoso livro do século XVIII, olho para o lado (tal era a conversa animada) e qual é o meu espanto vejo outra técnica responsável pelo fundo antigo (documentos raros, raríssimos) a comercializar ovos frescos no átrio da entrada da biblioteca.

Duas horas depois, um simpático velhinho que passa horas a ver jornais do início do século XX e a rasgar alguns também (cada grrr é um corte na alma), resolve abrir o saquinho plástico, que havia colocado na estante dos livros (exactamente, na estante dos livros) e toca de malhar no iogurte e na bolachinha. Findo o repasto, volta a embrulhar o ruidoso saquinho de plástico e regressa à sua nobre tarefa: vincar e rasgar jornais raros e a fazer as suas anotações a caneta no verso de folhas de estrato do banco.

Ele não tem culpa, a culpa é dos "calhamaços" de duas pernas (nem jeitosas são) que estão a povoar as nossas bibliotecas e que o nosso fantástico sistema de ensino teima em classificar de técnicos superiores... só se for de estupidez. Amanhã tentarei indagar a razão de um monte de revistas cor de rosa no balcão de atendimento. Esta deve ser a razão de ter visto tanta asneira num espaço tão pequeno e em tão pouco tempo.

Já alguém dizia a propósito do nosso "atraso". A culpa não é da nossa mão-de-obra, que é boa ser for bem conduzida e estimulada, mas sim das nossas elites e dos nossos gestores. Adoram olhar para o "Dr" e ficar atrás da sua secretária a olharem-se ao espelho.

Como eu aprecio esta nossa latinidade. Pelo andar da carruagem isto só será mesmo Allgarve. E andou o Afonso a bater na mãe, para quê?

11 de julho de 2008

Notizie


Piazza Navona, Roma (IT), Jul. 2008

Aqui estou de novo acabadinho de regressar de Roma, onde deixo sempre parte da cabeça e do coração. Venero aquela cidade, ponto final.
Ao contrário do que imaginava nem a placa de acesso à net me valeu. Por isso não consegui dar notícias e fazer o meu "diário romano", as fotografias também ficaram condicionadas ao facto de não ter espaço na pasta do computador, já suficientemente pesada para ainda carregar com o monstro da máquina. Preciso de arranjar uma mais pequena para estas ocasiões de viagens em trabalho. De qualquer modo tenho fotos e algumas histórias felinianas para contar. Quanto me ri e sorri por aquelas ruas, nesta altura do ano particularmente animadas e ocupadas pelas esplanadas dos cafés e restaurantes. E música, muita música... Roma estava espectacular, como não a via há muito tempo!

Mas não pensem que só foi passeata, nada disso. Foram dez dias de intenso trabalho, de segunda a sábado enfiado no Arquivo do Vaticano das 8:15 até às 18h, com um intervalo para almoço, de preferência num qualquer sítio com ar condicionado, pois como vos disse o calor que faz estes dias naquela cidade é demolidor. A partir das seis da tarde encerrava o expediente para gelado, banho e um belo jantar pelas ruas do quarteirão da Piazza Navona. Soube muito bem, regressar aos meus cantos preferidos e ser recebido com um "Ciao caro, sei tornato!?". Como também soube muito bem os passeios post prandium pelas ruas do Pantheon, do Campo dei Fiori, da Piazza Colona e de S. Lorenzo in Lucina. No Verão a noite de Roma é.... era um pecado ter de regressar a casa as onze, mas que fazer, estava ali para trabalhar. Só folguei no sábado à tarde e no domingo, graças à generosidade de uns amigos e do seu carro com ar condicionado, rumei às ruínas etruscas de Sutri, a Civita di Bagnoregio e ainda dei um pulinho a Orvieto, na Umbria.

Enfim... voltei, embora continue ocupadíssimo e in giro nas duas próximas semanas antes de ir para férias. Seja como for farei os possíveis para vir aqui deixar-vos umas fotos e algumas histórias da cidade que para mim será sempre eterna.
P.S. Tão eterna que, a arrepio dos meus planos, já marquei na agenda o meu regresso para os finais de Setembro. Pois é..., é o mal da investigação principalmente quando é feita no maior arquivo do mundo, mai finici.

3 de julho de 2008

Ecco mi qua !


Piazza Navona (Jun. 2008)

Finalmente consegui aceder à net!!! Nem podem imaginar a minha alegria, ao fim de quatro dias de completo blackout informático. Sabem, é que esta terra tem destas coisas estranhas... Há dois dias atrás consegui encontrar um internet café, mas era tão bom que ao fim de dois minutos o computador que estava a usar bloqueou, escusado será dizer que não me devolveram o dinheiro. Bem, graças a um amigo italiano consegui uma placa de acesso à rede e aqui estou. E não podem imaginar nem como nem onde, pois eu também não imaginava que fosse possível. Estou sentado na colunata de Berbinini, na Praça de S. Pedro, de computador ao colo a ver o correio e a deixar-vos un caro saluto da Roma. Enquanto isso ao meu lado estão centenas de turistas exaustos e esturricados do calor, com um ar de dó e piedade. Sim, essa tem sido a marca de todos estes dias na Cidade Eterna: a canícula romana. Digo-vos, é insuportável. As temperaturas têm oscilado entre os 22 e os 36 graus, com uma humidade elevadíssima. O cenário é tropical e o ritimo de trabalho só se consegue manter à conta de muitos cafés e banhos gelados. Podem imaginar quão saborosas têm sido as noites nas esplanadas dos cafés e dos restaurantes do "meu" bairro, bem ao lado da Chiesa della Pace e da Piazza Navona. Pena é eu ter de recolher à cela às onze da noite, horário imposto pelas freiras do albergue onde me instalei. Desta vez deram-me uma espécie de quarto, um cubículo com um janelo mínimo, conquistado ao espaço da igreja do século XVII. O problema é que noutro dia quis tomar banho e fazer algo mais e não tive outro remédio se não esperar que a missinha e os cânticos acabassem. Ainda pensei abrir o chuveiro e cantar o "Sole mio", porém achei melhor garantir o cubículo por mais uns dias. Roma tem destas e muitas outras coisas, que não se podem contar de uma vez só.
Agora me ne vado, acabou o intervalo do almoço, o papa Rati já veio à janela dizer ao povo para desandar (deve estar na hora da sesta de sua santidade, imagino a roupinha Prada escolhida para a ocasião...) e esperam-me mais três horas de arquivo, quem sabe na companhia da americana que volta e meia dá gargalhadas tolas com a leitura dos relatórios do Concílio Vaticano II. Cá para mim não são os relatórios que a fazem rir, ali há gato escondido. O ar satisfeito da pequena é incompatível com qualquer documentação conciliar. Baci tanti!